BRINCANDO AOS JANTARINHOS...E GORAZ EM CAMA DE PRATA

segunda-feira, março 15, 2010

Das imagens mais longínquas que tenho na memória, fazem parte as brincadeiras às cozinhas e aos cozinhados. No quintal apanhava pequenos cacos e logo arranjava uma baixela e com água e terra amassava "os comeres" . Depois, claro, havia "molho" mas era por me ter sujado toda, (he,he)!
Já mais crescidita, acompanhava a Tia Carolina às compras na Peixaria da Senhora Rosa.
Em bicos de pés já conseguia ver se nas caixas do peixe havia caranguejos ou peixinhos pequeninos, daqueles que vinham misturados e ninguém queria. E vai de pedir se a Sra Rosa mos dava! A Tia não gostava muito, mas eu vinha toda satisfeita com uma mão cheia de peixitos em miniatura para os jantarinhos!
Outras vezes era a minha mãe que me dava uns baguitos de arroz e umas massas, mais um pedacito de batata ou de cenoura a sério e era uma festa!
A primeira sopa que fiz devia ter uns oito ou nove anos. Na altura havia uns fogareiros de barro que funcionavam a carvão e onde se assavam as sardinhas. Tinham-me oferecido um, em tamanho mais pequeno, e eu acendi-o, pus-lhe uma panelita que a minha mãe me emprestou com água e uma batata a cozer e preparei uma mão cheia de feijão verde partido para a sopa. O pior é que aquilo nunca mais fervia! Acho que levou mais de uma hora, porque o tempo não passava, escorria... Por fim, consegui amassar a batata com um garfo e meti-lhe o feijão verde. Não me lembro nada de lhe ter posto cebola, que tanta falta faz nas sopas, mas pus-lhe um pouco de azeite e sal.
No fim daquela odisseia, dei-a a provar aos meus pais e ainda me lembro dos elogios que o meu Pai me deu!
Claro que fiquei contente, mas não me esqueço que me perguntava, como é que ele podia ter gostado daquela coisa horrível que só sabia a feijão verde cru!...

E já que falámos em peixes, vou dar-vos a receita do "Goraz em Cama de Prata". É uma receita da Teleculinária Especial da Páscoa de 1977 e é do Chefe Silva. Hoje chamam-lhe a "técnica do papelote" que é mais fino, mas vai tudo dar ao mesmo.
É uma receita muito simples, mas muito requintada e vistosa e tem a vantagem de conservar todo o aroma até ao momento de servir.

                  GORAZ EM CAMA DE PRATA

2 folhas de papel de alumínio 20 cm mais compridas que o peixe
1 folha de papel vegetal grande (onde possa embrulhar o peixe)
1 goraz com cerca de 1,200 kg
100g de margarina ou manteiga
1 cebola picada finamente
1 raminho de salsa picada
1 limão
sal, pimenta e noz moscada q.b.


Amanhe, lave e limpe muito bem o goraz. Dê-lhe um golpe ao longo do lombo e corte-lhe a cauda.
Tempere com o sumo de metade do limão, umas pedras de sal e pimenta.
Amoleça a margarina e amasse-a muito bem com a cebola e a salsa picadinhas, junte mais um pouco de sal, pimenta, noz moscada e sumo do meio limão restante. Faça uma espécie de papa e com ela barre o peixe de ambos os lados e por dentro da barriga.
Estenda sobre a mesa uma folha de papel de alumínio, sobreponha-lhe a folha de papel vegetal e sobre esta coloque o peixe.
Embrulhe-o no papel vegetal de modo a ficar um pouco folgado e tendo cuidado para as "arestas" do peixe
não furarem o papel; se tal acontecer, arranje outro papel vegetal.
Coloque-lhe por cima a outra folha de papel de alumínio. Una primeiro os lados das duas folhas, um com o outro. Aperte muito bem nas pontas, dando-lhe o feitio de um barquinho. Deve ter o máximo cuidado para que o papel de alumínio não seja furado e fique bem apertado, para abafar o peixe.
Com jeito para não rebentar nenhum papel, coloque-o num tabuleiro e leve a assar em forno quente durante 15 a 20 minutos. Sirva bem quente, levando o próprio tabuleiro à mesa, sobre qualquer resguardo. Nesse momento, com uma tesoura dê um corte a todo o comprimento na folha de cima e com um garfo abra-a para os lados. O vapor e o aroma que se evolam, são o melhor estimulante para uma óptima refeição.

Notas: - Costumo pôr mais salsa do que a indicada (um raminho).
           - Deixo assar por cerca de 30 a 35 minutos a 180°.
           - Acompanha com batata cozida ou puré de batata e salada mista.
           - Para variar, pode acrescentar à margarina, uma colher de chá de pó de caril.
           - Pode usar outros peixes, tais como trutas ou robalinhos, mas deve embrulhá-los individualmente.

Desejo-vos uma boa semana. Beijinhos

Bombom = Tia Fátima = Avó Fátima

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6 comentários

  1. Amor de pais é assim, gostam de tudo que fazemos mesmo que seja muito ruim he he
    Ainda não cozinhei com essa técnica mas acredito que fique muito bom :)

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  2. Querida Bombom
    Adoro tuas descrições do teu tempo de criança!

    Quando era pequena, também estava sempre inventando na cozinha, como joguei comida fora! Mas acredito que tudo foi muito importante.
    Um grande abraço
    Léia

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  3. Estou fascinada para aqui com este teu goraz maravilhoso, com um nome tão bonito...
    Deve ficar bem bom!
    Beijinhos.

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  4. Fiquei de boca aberta com a tua receitinha...deve ficar uma autentica maravilha assim que o meu filho traga um peixe grande vou fazer a tua receita um beijinho.

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  5. Olá Fátima,

    Que delicia a história de quando era criança. E, como é bom nos lembrarmos dessas histórias da infância. Eu lembro-me de quando era criança o meu pai trouxe-me um serviço de chá lindissimo de porcelana em miniatura de Itália que era da marca Kel, qualquer coisa, já não me lembro do resto do nome. Então eu todas as semanas batizava as minhas bonecas e fazia o lanche no terraço da minha mãe (ia mesmo à igreja com as minhas amigas)O lanche era água com açúcar e o que a minha mãe tinha na altura em casa de bolos. E, como nos divertiamos. Ou então adorava quando a minha mãe trazia o peixe ainda embrulhado em jornal como era no meu tempo . E, colocava em cima do lava-loiças e dizia não mexas que a mãe vai só buscar (qualquer coisa) à rua e venho já. Ok, a Isabelita era só ela virar costas que começava logo amanhar o peixe e a falar para a parede (a fazer de conta que era a televisão, e eu era a Maria de Lourdes Modesto)ok, também não fazia por menos:)OK, O problema era quando era pescada ui, era para o lixo.pois.eu amassava a pescada ficava assim para o molito:)...Mas, um dia "saiu-me o tiro pela culatra" a minha mãe colocou o papel de jornal com o peixe e saiu e disse na mesma não mexas. Ok, mas curiosa e gostar de mexer no peixe como eu gostava 8gosto) ups, abri o jornalito mal a minha mãe virou costas. Só que era enguias a mexerem-se, ui, ui, quando a minha mãe chegou a casa era enguias por toda a cozinha e a porta da dita fechadita, não fosse alguma enguiazita vir atràz de mim. Ok, foi remédio santo nunca mais mexi, só mesmo com a minha mãe ao pé.

    Agora o goraz em cama de prata, gosto e muito. E, como a compreendo dessa das modernices do papelote:) pois, eu só uso esse termo mesmo desde que tewnho blog:)

    Beijinhos com muito carinho mesmo

    Isabel de Miranda

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  6. Parece ser delicioso! Vou exprimentar. Obrigada pela receita.
    Beijinhos

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