Hoje venho falar-vos de um livrinho muito interessante que descobri há dias numa feira do Livro (no Inatel de Oeiras) e que comprei por 2 euros. A Cozinha Arqueológica de Eça de Queirós.
Saíu pela primeira vez na Gazeta de Notícias, no Rio de Janeiro, em três artigos.
Eça tinha acabado de ler três livros de Ateneu, escritor, pensador, filósofo que viveu nos tempos de Marco Aurélio e Sétimo Severo, na Roma Antiga.
Para Eça, estudavam-se as civilizações antigas, mas não se sabia nada àcerca daquilo "que melhor revela o génio de uma raça: a Cozinha!".
Parece que Ateneu se dedicava a divulgar "toda a sorte de noções miudas, e mesmo caturras, sobre boas letras, história, desporto, gramática, etiqueta, comestíveis, etc., numa vasta obra intitulada Deipnosophistae ou Doutores Jantando". Ele convidava Doutores, Poetas, Filósofos... para um banquete em sua casa. "Estes Doutores que jantam, vão ao mesmo tempo conversando, com gravidade romana e volubilidade grega, sobre toda a coisa sabível, desde as magnificências de Homero até às propriedades da abóbora".
Ora o que mais entusiasmou Eça, foram "as noções e notícias da cozinha grega, romana e alexandrina, as três grandes escolas de cozinha da Antiguidade, que ele nos conservou com enternecido cuidado"...
Os romanos gostavam de comer bem. Houve até quem afirmasse "que Roma pereceu pela barriga".
"Já a Grécia mesma, que era sóbria por temperamento e por educação, elevou a uma alta dignidade a arte da cozinha. Platão não duvidou de a equiparar à oratória: e num dos seus diálogos magníficos envolve nos mesmos louvores os que guizam e apresentam bem as ideias e os alimentos. Tal era a cultura, o fino engenho, a influência social dos cozinheiros, que a Grécia, resumindo em símbolos compreensíveis e populares as glórias da sua civilização, celebrou ao lado dos seus sete sábios os seus sete cozinheiros.
O maior deles era Aegis, de Rhodes, o único mortal que tem sabido assar sublimemente um peixe. Outro era Nereu, de Quio, cuja sopa de congro foi cantada por poetas e recompensada em toda a Ática com coroas cívicas. Outro ainda, Aftonetes de Atenas, levantou a tal perfeição a ciência dos molhos, que para o possuir como chefe de cozinha, os reis travaram entre si longas guerras..."
Á medida que Roma alargava os seus domínios," iam crescendo as escolas de cozinha - mais numerosas, já no tempo de Cláudio, do que as de filosofia e de gramática.
O ofício de cozinheiro tornou-se mais rendoso e um dos mais privilegiados. Era quase um cargo público pelas honras que conferia - e chegou a existir uma corporação de cozinheiros do Estado. Sob Alexandre Severo, os governadores das províncias recebiam, ao partir, entre outras dotações de baixelas, de cavalos, de armas de luxo, um cozinheiro, um cozinheiro oficial, que deviam restituir ao Estado quando findava o período do seu governo.
Desses cozinheiros, os mais ilustres foram os Apícios, que formaram uma verdadeira dinastia, desde Sila até Trajano. O último Apício, o mais célebre, redigiu enfim o código supremo da cozinha, no seu livro monumental Da Arte Culinária.
Pouco a pouco, a vida identifica-se com a mesa; e a palavra convivium, já nos dias de Cícero, significava indiferentemente a sociabilidade moral, que liga os homens, e o banquete materialmente em torno do mesmo guisado"...
Aprendi muitas coisas com esta pequena obra de Eça que, pela sua escrita é um prazer ler. Trouxe-o aqui para todas as pessoas que gostam de saber mais e não têm acesso a estes livros algo raros.
Se gostarem deste tema e não o acharem "chato" (desculpem o termo) podemos continuar esta "conversa" na próxima vez. Eça também teve de fazer 3 artigos na Gazeta de Notícias, he,he!
Todas as citações de Eça de Queiroz estão entre "aspas".
Hoje dedico estas páginas a todos os Cozinheiros com quem tenho aprendido. Primeiro, a Maria de Lurdes Modesto com quem iniciei a minha aprendizagem. Depois com o Chefe Silva que me ajudou a aprimorar a arte de ser boa cozinheira em minha casa. Muito mais tarde com todas as "blogueiras" que descobri na Net.
Ultimamente com o Jamie Oliver e os seus livros...
A minha homenagem especial para duas destacadas "bloggers" :
***** Leonor de Sousa Bastos pelo seu livro Flagrante Delícia
e
***** Mónica Pinto pelo seu Restaurante Pratos e Travessas
Para todos, um abraço da
Bombom = Tia Fátima = Avó Fátima
Saíu pela primeira vez na Gazeta de Notícias, no Rio de Janeiro, em três artigos.
Eça tinha acabado de ler três livros de Ateneu, escritor, pensador, filósofo que viveu nos tempos de Marco Aurélio e Sétimo Severo, na Roma Antiga.
Para Eça, estudavam-se as civilizações antigas, mas não se sabia nada àcerca daquilo "que melhor revela o génio de uma raça: a Cozinha!".
Parece que Ateneu se dedicava a divulgar "toda a sorte de noções miudas, e mesmo caturras, sobre boas letras, história, desporto, gramática, etiqueta, comestíveis, etc., numa vasta obra intitulada Deipnosophistae ou Doutores Jantando". Ele convidava Doutores, Poetas, Filósofos... para um banquete em sua casa. "Estes Doutores que jantam, vão ao mesmo tempo conversando, com gravidade romana e volubilidade grega, sobre toda a coisa sabível, desde as magnificências de Homero até às propriedades da abóbora".
Ora o que mais entusiasmou Eça, foram "as noções e notícias da cozinha grega, romana e alexandrina, as três grandes escolas de cozinha da Antiguidade, que ele nos conservou com enternecido cuidado"...
Os romanos gostavam de comer bem. Houve até quem afirmasse "que Roma pereceu pela barriga".
"Já a Grécia mesma, que era sóbria por temperamento e por educação, elevou a uma alta dignidade a arte da cozinha. Platão não duvidou de a equiparar à oratória: e num dos seus diálogos magníficos envolve nos mesmos louvores os que guizam e apresentam bem as ideias e os alimentos. Tal era a cultura, o fino engenho, a influência social dos cozinheiros, que a Grécia, resumindo em símbolos compreensíveis e populares as glórias da sua civilização, celebrou ao lado dos seus sete sábios os seus sete cozinheiros.
O maior deles era Aegis, de Rhodes, o único mortal que tem sabido assar sublimemente um peixe. Outro era Nereu, de Quio, cuja sopa de congro foi cantada por poetas e recompensada em toda a Ática com coroas cívicas. Outro ainda, Aftonetes de Atenas, levantou a tal perfeição a ciência dos molhos, que para o possuir como chefe de cozinha, os reis travaram entre si longas guerras..."
Á medida que Roma alargava os seus domínios," iam crescendo as escolas de cozinha - mais numerosas, já no tempo de Cláudio, do que as de filosofia e de gramática.
O ofício de cozinheiro tornou-se mais rendoso e um dos mais privilegiados. Era quase um cargo público pelas honras que conferia - e chegou a existir uma corporação de cozinheiros do Estado. Sob Alexandre Severo, os governadores das províncias recebiam, ao partir, entre outras dotações de baixelas, de cavalos, de armas de luxo, um cozinheiro, um cozinheiro oficial, que deviam restituir ao Estado quando findava o período do seu governo.
Desses cozinheiros, os mais ilustres foram os Apícios, que formaram uma verdadeira dinastia, desde Sila até Trajano. O último Apício, o mais célebre, redigiu enfim o código supremo da cozinha, no seu livro monumental Da Arte Culinária.
Pouco a pouco, a vida identifica-se com a mesa; e a palavra convivium, já nos dias de Cícero, significava indiferentemente a sociabilidade moral, que liga os homens, e o banquete materialmente em torno do mesmo guisado"...
Aprendi muitas coisas com esta pequena obra de Eça que, pela sua escrita é um prazer ler. Trouxe-o aqui para todas as pessoas que gostam de saber mais e não têm acesso a estes livros algo raros.
Se gostarem deste tema e não o acharem "chato" (desculpem o termo) podemos continuar esta "conversa" na próxima vez. Eça também teve de fazer 3 artigos na Gazeta de Notícias, he,he!
Todas as citações de Eça de Queiroz estão entre "aspas".
Hoje dedico estas páginas a todos os Cozinheiros com quem tenho aprendido. Primeiro, a Maria de Lurdes Modesto com quem iniciei a minha aprendizagem. Depois com o Chefe Silva que me ajudou a aprimorar a arte de ser boa cozinheira em minha casa. Muito mais tarde com todas as "blogueiras" que descobri na Net.
Ultimamente com o Jamie Oliver e os seus livros...
A minha homenagem especial para duas destacadas "bloggers" :
***** Leonor de Sousa Bastos pelo seu livro Flagrante Delícia
e
***** Mónica Pinto pelo seu Restaurante Pratos e Travessas
Para todos, um abraço da
Bombom = Tia Fátima = Avó Fátima
- quinta-feira, setembro 30, 2010
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