Vou ausentar-me por mais uns dias e não quis deixar de avisar os visitantes de O Meu Estaminé.
E, à guisa de compensação, trouxe-vos um excerto de um poema de Guerra Junqueiro, Oração ao Pão.
Foi retirado de um pequeno livrinho que comprei em Seia, no Museu do Pão. Como é muito extenso, hoje deixo-vos só uma parte (para não vos maçar).
Oração ao Pão
Num grão de trigo habita
Alma infinita.
Alma latente, incerta, obscura,
Mas que geme, que ri, que sonha, que murmura...
Quando a seara é ceifada, acaso o grão
Terá dor? Por que não?!
Um grão de trigo,
Mil anos morto num jazigo,
Dêem-lhe terra e luz,
E ei-lo, germina e cresce e floresce e produz.
Vêde lá, vêde lá,
Quanto no eirado o trigo sofrerá!
Pelo malho batido num terreiro,
Um dia inteiro!
E um dia inteiro, sem piedade,
Coitadinho! rodado pela grade!
Depois a tulha celular,
A escuridão sem ar!
Depois, depois, ó negra sorte!
Entre rochedos triturado até à morte!
Ó pedras dos moinhos, mal sabeis
O mal que fazeis!
Quantos milhões de crimes por minuto,
Pedras de coração ferrenho e bruto!
E as águas da levada vão cantando,
Enquanto as pedras duras vão matando!
E a moleirinha alegre também canta,
E ri a água, e ri o sol, e ri a planta!...
Enfarinhada, branca moleirinha,
É pó de cemitério essa farinha!...
Loiro trigo a expirar por nosso bem,
Sem um ai de ninguém!
Loiro trigo inocente,
Cuja morte horrorosa ninguém sente!
E é por isso que ao fim do teu martírio
És cor de Lua, és cor de neve, és cor de lírio...
Bendito sejas!
Simples por nós viveste,
Puro por nós sofreste,
Mártir por nós morreste!
Bendito sejas!
Guerra Junqueiro
Até breve. Fiquem bem!
Beijinhos da
Bombom (Tia Fátima / Avó Fátima)
E, à guisa de compensação, trouxe-vos um excerto de um poema de Guerra Junqueiro, Oração ao Pão.
Foi retirado de um pequeno livrinho que comprei em Seia, no Museu do Pão. Como é muito extenso, hoje deixo-vos só uma parte (para não vos maçar).
Oração ao Pão
Num grão de trigo habita
Alma infinita.
Alma latente, incerta, obscura,
Mas que geme, que ri, que sonha, que murmura...
Quando a seara é ceifada, acaso o grão
Terá dor? Por que não?!
Um grão de trigo,
Mil anos morto num jazigo,
Dêem-lhe terra e luz,
E ei-lo, germina e cresce e floresce e produz.
Vêde lá, vêde lá,
Quanto no eirado o trigo sofrerá!
Pelo malho batido num terreiro,
Um dia inteiro!
E um dia inteiro, sem piedade,
Coitadinho! rodado pela grade!
Depois a tulha celular,
A escuridão sem ar!
Depois, depois, ó negra sorte!
Entre rochedos triturado até à morte!
Ó pedras dos moinhos, mal sabeis
O mal que fazeis!
Quantos milhões de crimes por minuto,
Pedras de coração ferrenho e bruto!
E as águas da levada vão cantando,
Enquanto as pedras duras vão matando!
E a moleirinha alegre também canta,
E ri a água, e ri o sol, e ri a planta!...
Enfarinhada, branca moleirinha,
É pó de cemitério essa farinha!...
Loiro trigo a expirar por nosso bem,
Sem um ai de ninguém!
Loiro trigo inocente,
Cuja morte horrorosa ninguém sente!
E é por isso que ao fim do teu martírio
És cor de Lua, és cor de neve, és cor de lírio...
Bendito sejas!
Simples por nós viveste,
Puro por nós sofreste,
Mártir por nós morreste!
Bendito sejas!
Guerra Junqueiro
Até breve. Fiquem bem!
Beijinhos da
Bombom (Tia Fátima / Avó Fátima)
- quinta-feira, outubro 13, 2011
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